Reta Final da Vida e Reputação
Quinta-feira dia 2 de agosto de 1100, Guilherme o Ruivo participa de uma caça ao veado em New Forest (no condado de Hampshire, na Inglaterra), com seus companheiros quando, no final da tarde, é morto por uma seta no coração[19]. Já por volta de 1070 o seu irmão Ricardo perdera a vida nesta floresta, e em maio de 1099 também o seu sobrinho ali tivera uma morte semelhante. Alguns anos mais tarde, o monge e historiador Guilherme de Malmesbúria acusaria Gualtério II Tirel, um nobre francês, de ser o responsável pela sua morte. Este participava da caça; assim que o rei foi encontrado morto, deixou a floresta e regressou precipitadamente a França. Mas Suger de Saint-Denis, amigo e biógrafo de Luís VI de França, inocenta Tirel afirmando que este jurara em várias ocasiões não ter estado, nesse dia, em companhia do rei, nem de o ter visto. A maioria dos cronistas contemporâneos viram o evento como vingança divina para punir um blasfemo.
Alguns historiadores viram a morte do rei como uma consequência de uma conspiração fomentada pelos Clare e Henrique, o irmão do rei[21]. A antropóloga britânica Margaret Murray evoca mesmo a feitiçaria e um sacrifício ritual para explicar a morte de Guilherme, o Ruivo[22]. Em 2005, a historiadora britânica Emma Mason apresentou uma nova tese sobre o acidente. Segundo ela, teria sido um assassinato encomendado[23]. Para a historiadora, o rei inglês estaria a preparar a invasão da França no momento em que foi morto. Os Capetianos, particularmente Luís (futuro Luís VI), informados das intenções do rei inglês, decidem matá-lo. Para isso utilizam um agente duplo que Mason indica como sendo Reinaldo de Equesnes, que acompanhava Gualtério Tirel.
Presente nessa caçada, Henrique aproveita imediatamente o drama: apodera-se do tesouro real em Winchester e faz-se coroar rei de Inglaterra na abadia de Westminster a 5 de agosto de 1100, apenas três dias após a morte de seu irmão. A ausência de herdeiros diretos (Guilherme nunca casou e não tem filhos) e o apoio de Gilberto FitzRichard de Clare e de sua família facilitam a tomada do poder. As circunstâncias são favoráveis a Henrique, mas provavelmente fortuitas. Sugere-se que nesta data, Henrique estava desesperado e que esse «acidente» era a sua última hipótese de obter o trono, com o seu irmão Roberto Courteheuse quase a regressar da primeira cruzada onde estava desde 1096. Na realidade, o momento da morte do rei não é particularmente vantajoso. Se esse evento tivesse tido lugar quatro anos antes, Henrique teria todo o tempo de consolidar o seu poder e administração em Inglaterra, para depois anexar o ducado da Normandia.[19]. Mas em vez disso, ele tem de enfrentar a oposição dos barões do reino e a invasão de Courteheuse, de regresso da cruzada.
Guilherme o Ruivo foi enterrado à pressa a 3 de agosto no coração da antiga catedral de Winchester, sob a torre. Provavelmente pouca gente assistira, e até o seu irmão Henrique estava demasiado ocupado a preparar a sucessão. A torre sob a qual foi enterrado desmorona em 1107. O local onde se deu o acidente foi muito discutido, e dois locais foram propostos: o primeiro é um lugar denominado Canterton, onde podemos encontrar a «Rufus Stone» colocada em 1745; o segundo fica perto da aldeia abandonada de Througham.
O seu melhor retrato vem de Guilherme de Malmesbúria, embora este não seja um seu contemporâneo. Segundo o historiador, Guilherme o Ruivo era um homem pequeno, com uma proeminente barriga e de tom de pele avermelhada e gostava de se vestir com a última moda. Seria loiro, mas esse ponto é muito discutível. Como membro da aristocracia, adotara o estilo de corte inglês, com cabelos compridos, bem que o concílio de Rouen de 1096 tenha condenado o uso de cabelos compridos, associando-o à deturpação da moral. Em privado, com os amigos, adotava uma atitude informal e mostrava-se muito à vontade; mas em público fazia sentir a sua falta de eloquência. Tinha também tendência a gaguejar quando se enervava. Os que se aproximavam de Guilherme o Ruivo deviam ter a noção de que se tratava de um homem perigoso. A repressão e a conspiração de 1095 revelam a face negra do caráter do rei: ele cegou e castrou o seu primo Guilherme d'Eu, e mostrou-se impiedoso para com os rebeldes de baixo estatuto. Desenvolveu uma paranoia para com os aristocratas a seu redor. Anselmo descreve-o como um touro selvagem. Se o humor e a ironia de Guilherme o Ruivo, e a sua imagem cavalheiresca podem torná-lo simpático para alguns historiadores, a sua crueldade e brutalidade não podem ser esquecidas.